quarta-feira, 25 de junho de 2008

Para Paulo.

O texto que tanto lhe falei:

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.

E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.

Começa a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas.

Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

Aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.

E aprende que, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam...

E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se leva anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la...

E que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.

E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.

E que bons amigos são a família que nos permitiu escolher.

Aprende que não temos de mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam...

Percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa...

Por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pois pode ser a última vez que as vemos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.

Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.

Descobre que se leva muito tempo para se tornar à pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.

Aprende que não importa aonde já chegou, mas para onde está indo... Mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve.

Aprende que ou você controla seus atos ou eles o controlarão...

E que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.

Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.

Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens...

Poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.

Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém...
Algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.

Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.

Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar.
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores.

E você aprende que realmente pode suportar... Que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.

E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!

Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar.


William Shakespeare

Pra nunca esquecer

Hoje falei muita coisa na terapia. E muita coisa sobre a minha necessidade de estar com alguém. E falei muito sobre minha vontade de ficar só por um tempo, mas a constante fuga disso. Como disseram pra mim:

"Você é um cara namorador."

É, sempre fui. Mas não quero ser mais, pelo menos por um tempo. Aí fiquei conversando com este amigo sobre isso que eu disse acima. Sobre o não querer ter alguém e o querer ficar só por um tempo, mas a dificuldade que tenho entre querer isso e conseguir continuar assim. E então, ele me solta isso:

"Quando você passar a olhar para você, não vai mais sentir tanta necessidade de ter alguém que faça isso por você."

Bingo!!! Era isso que eu teorizei durante minha terapia inteira hoje, mas não consegui achar meios pra exprimir. Engraçado como as coisas surgem de forma inesperada, mas no momento certo. Estou, desde os 15 anos, buscando nos outros o que eu sou. Mas não é pulando de galho em galho, ou melhor, de pessoa em pessoa, que eu vou me encontrar. Só quando eu me permitir me conhecer é que vou saber que diabo eu sou. Aí sim, eu volto a ser um cara namorador. E serei um daqueles pra casar!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Crônica V

PESSOAS HABITADAS
Martha Medeiros

Estava conversando com uma amiga, dia desses. Ela comentava sobre uma terceira pessoa, que eu não conhecia. Descreveu-a como sendo boa gente, esforçada, ótimo caráter. "Só tem um probleminha: não é habitada". Rimos. É uma expressão coloquial na França — habité — mas nunca tinha escutado por estas paragens e com este sentido. Lembrei-me de uma outra amiga que, de forma parecida, também costuma dizer "aquela ali tem gente em casa" quando se refere a pessoas que fazem diferença.

Uma pessoa pode ser altamente confiável, gentil, carinhosa, simpática, mas se não é habitada, rapidinho coloca os outros pra dormir. Uma pessoa habitada é uma pessoa possuída, não necessariamente pelo demo, ainda que satanás esteja longe de ser má referência. Clarice Lispector certa vez escreveu uma carta a Fernando Sabino dizendo que faltava demônio em Berna, onde morava na ocasião. A Suíça, de fato, é um país de contos de fada onde tudo funciona, onde todos são belos, onde a vida parece uma pintura, um rótulo de chocolate. Mas falta uma ebulição que a salve do marasmo.

Retornando ao assunto: pessoas habitadas são aquelas possuídas, de fato, por si mesmas, em diversas versões. Os habitados estão preenchidos de indagações, angústias, incertezas, mas não são menos felizes por causa disso. Não transformam suas "inadequações" em doença, mas em força e curiosidade. Não recuam diante de encruzilhadas, não se amedrontam com transgressões, não adotam as opiniões dos outros para facilitar o diálogo. São pessoas que surpreendem com um gesto ou uma fala fora do script, sem nenhuma disposição para serem bonecos de ventríloquos. Ao contrário, encantam pela verdade pessoal que defendem. Além disso, mantêm com a solidão uma relação mais do que cordial.

Então são as criaturas mais incríveis do universo? Não necessariamente. Entre os habitados há de tudo, gente fenomenal e também assassinos, pervertidos e demais malucos que não merecem abrandamento de pena pelo fato de serem, em certos aspectos, bastante interessantes. Interessam, mas assustam. Interessam, mas causam dano. Eu não gostaria de repartir a mesa de um restaurante com Hannibal Lecter, "The Cannibal", ainda que eu não tenha dúvida de que o personagem imortalizado por Anthony Hopkins renderia um papo mais estimulante do que uma conversa com, sei lá, Britney Spears, que só tem gente em casa porque está grávida.

Que tenhamos a sorte de esbarrar com seres habitados e ao mesmo tempo inofensivos, cujo único mal que possam fazer é nos fascinar e nos manter acordados uma madrugada inteira. Ou a vida inteira, o que é melhor ainda.

Enough

Já deu de tristeza né? Estava pensando nisso hoje a tarde, enquanto não tinha uma alma viva andando pelas ruas. Já chega de posts tristes por enquanto. Já chega de me preocupar com os outros (será que é com os outros mesmo?). Já chega de pensar no hipotético que nem deveria ser pensado. Já chega de sofrer pelo que não foi. Pelo que não é. Pelo que não será. Já chega de fantasias. Já chega de ilusões. Vou seguir as sábias palavras de minha ex-sogra, a Vera, quando me disse no bar Boteco, em Recife:

- Olavo, depois de passar quinze dias chorando eu olhei pro espelho e vi que já chega. Já tava bom. Não iria perder minha vida e o meu filho me entregando ao choro.

Pois bem, querida ex-sogra, me permita seguir seus sábios conselhos. Chega!!!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

For some reason I can not explain...

O que mais angustia é a incerteza do caminho. Porque se você tivesse a certeza que está no caminho correto, o que lhe trará bons frutos, ficaria mais fácil e aceitável.

Aí fico me perguntando: Será que estou construindo bases sólidas desta vez? Ou será que estou refazendo novas bases de areia? Será que fiz/faço/farei a coisa certa? Será que tomei/tomo/tomarei a correta decisão? Será?

Nestas horas de serás me prendo numa história sobre dois caminhos, o de Deus e o do diabo. O caminoh que levaria ao diabo era, segundo a história, claro, agradável e fácil. O caminho que levava ao Senhor era escuro, cheio de espinhos e contrapontos. Talvez seja meu consolo. Minha maneira de seguir. Minha pílula de ânimo diária. Minha ilusão.

Sendo ou nao ilusão, é o que me faz pensar, ou me enganar, que estou fazendo o correto. Por mais que o Bicho da Tasmânia ameace a se descontrolar e a cometer atos idianos.

"For some reason I can not explain
I know Saint Peter won't call my name
Never an honest word
And that was when I ruled the world."

Divina, maravilhosa.

Ow, vocês já ouviram a nova música do Coldplay, Viva la Vida? É uma das músicas mais lindas que já ouvi!!! Aff, dá uma coisa por dentro quanto tu ouve, uma vontade de chorar... mas a música não é triste. É, simplesmente, linda! Tem esse videozinho promo ai do itunes que mostra ele cantando:



Mas achei esta versão acústica de um carinha aí. Tá bem legal também:



Ouçam a original. Ponham no o som no alto, apaguem as luzes, deite na cama e deixe-se levar. Aff, que arrepio!!!!

sábado, 21 de junho de 2008

Limbo

É que agora eu estou no limbo. Este é o momento de pensar, chorar, entristecer, emocionar, ter raiva, agir, mudar, melhorar. Não que não fazemos tudo isso cotidianamente, mas é que agora é a hora chave desta mudança. Agora é o momento em que tudo vem junto. Tô no limbo!

Mas é uma fase necessária. Você já viu evolução sem dor? O importante é que tenho certeza no futuro brilhante que terei após esta fase no limbo. E quanto a tristeza e solidão... bem, a gente aprende a lidar com elas.

Freedom

I can smell the liberty!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Crônica IV

MÃE É FODA
Luís Fernando Veríssimo


Mãe: Alô?
Filha: Mãe? Posso deixar os meninos contigo hoje à noite?
Mãe: Vai sair?
Filha : Vou.
Mãe : Com quem?
Filha : Com um amigo.
Mãe: Não entendo porque você se separou do teu marido, um homem tão bom...
Filha: Mãe! Eu não me separei dele! ELE que se separou de mim!
Mãe: É... você me perde o marido e agora fica saindo por aí com qualquer um...
Filha: Eu não saio por aí com qualquer um. Posso deixar os meninos?
Mãe : Eu nunca deixei vocês com a minha mãe, para sair com um homem que não fosse teu pai!Filha: Eu sei, mãe. Tem muita coisa que você fez que eu não faço!
Mãe: O que você tá querendo dizer?
Filha: Nada! Só quero saber se posso deixar os meninos.
Mãe: Vai passar a noite com o outro? E se teu marido ficar sabendo?
Filha: Meu EX-marido!! Não acho que vai ligar muito, não deve ter dormido uma noite sozinho desde a separação!
Mãe: Então você VAI dormir com o vagabundo!
Filha: Não é um vagabundo!!!
Mãe: Um homem que fica saindo com uma divorciada com filhos só pode ser um vagabundo, um aproveitador!
Filha : Não vou discutir, mãe. Deixo os meninos ou não?
Mãe: Coitados... com uma mãe assim...
Filha: Assim como?
Mãe: Irresponsável! Inconseqüente! Por isso teu marido te deixou!
Filha: CHEGA!!!
Mãe: Ainda por cima grita comigo! Aposto que com o vagabundo que tá saindo contigo você não grita.
Filha: Agora tá preocupada com o vagabundo?
Mãe: Eu não disse que era vagabundo!? Percebi de cara!
Filha: Tchau!!
Mãe: Espera, não desliga! A que horas vai trazer os meninos?
Filha: Não vou. Não vou levar os meninos, também agora não vou mais sair!
Mãe: Não vai sair? Vai ficar em casa? E você acha o que, que o príncipe encantado vai bater na tua porta? Uma mulher na tua idade, com dois filhos, pensa que é fácil encontrar marido? Se deixar passar mais dois anos, aí sim que vai ficar sozinha a vida toda! Depois não vai dizer que não avisei! Eu acho um absurdo, na tua idade você ainda precisar que EU te empurre para sair!

Isso é muuuuuuito coisa de mãe...

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Crônica III

ZERO GRAU DE LIBRA
Caio Fernando Abreu

O Sol entrou ontem em Libra. E porque tudo é ritual, porque fé, quando não se tem se inventa, porque Libra é a regência máxima de Vênus, o afeto, porque Libra é o outro (quando se olha e se vê o outro, e de alguma forma tenta-se entrar em alguma espécie de harmonia com ele), e principalmente, porque Deus, se é que existe, anda distraído demais, resolvi chamar a atenção dele para algumas coisas. Não que isso possa acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos, mas para exercitar o ritual e a fé - e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal.

Nesse Zero Grau de Libra, queria pedir a isso que chamamos de Deus um olho bom sobre o Planeta Terra, e especialmente sobre a cidade de São Paulo. Um olho quente sobre aquele mendigo gelado que acabei de ver sob a marquise do Cine Majestic; um olho generoso para a noiva radiosa mais acima. Eu queria o olho bom de Deus derramado sobre as loiras oxigenadas, falsíssimas, o olho cúmplice de Deus sobre as jóias douradas, as cores vibrantes. O olho piedoso de Deus para esses casais que, aos fins de semana, comem pizza com Fanta e Guaraná pelos restaurantes, e mal se olham enquanto falam coisas como: "você acha que eu devia ter dado o telefone da Catarina à Eliete"? e o outro grunhe em resposta.

Deus, põe teu olho amoroso sobre todos os que já tiveram um amor, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem. Derrama teu olho amável sobre as criancinhas demônias criadas em edifícios, brincando aos berros em playgrounds de cimento. Ilumina o cotidiano dos funcionários públicos ou daqueles que, como funcionários públicos, cruzam-se em corredores sem ao menos se ver, nesses lugares onde um outro ser humano vai se tornando aos poucos tão humano quanto uma mesa.

Passeia teu olhar fatigado pela cidade suja, Deus, e pousa devagar tua mão na cabeça daquele que, na noite, liga para o CVV. Olha bem o rapaz que, absolutamente só, dez vezes repete Moon Over Bourbon Street, na voz de Sting, e chora. Coloca um spot bem brilhante no caminho das garotas performáticas que para pagar o aluguel dão duro como garçonetes pelos bares. Olha também pela multidão sob a marquise do Mappin, enquanto cai a chuva de granizo, pelo motorista de taxi que confessa não ter mais esperança alguma. Cuida do pintor que queria pintar, mas gasta seu talento pelas redações, pelas agências publicitárias, e joga tua luz no caminho dos escritores que precisam vender barato seu texto. Olha por todos aqueles que queriam ser outra coisa qualquer a que não a que são, e viver outra vida se não a que vivem.

Não esquece do rapaz viajando de ônibus com seus teclados para fazer show na capital. Deita teu perdão sobre os grupos de terapia e suas elaborações da vida, sobre as moças desempregadas em seus pequenos apartamentos na Bela Vista, sobre os homossexuais tontos de amor não dado, sobre as prostitutas seminuas, sobre os travestis da República do Líbano, sobre os porteiros de prédios comendo sua comida fria nas ruas dos Jardins. Sobre o descaramento, a sede e a humildade, sobre todos que de alguma forma não deram certo (porque, nesse esquema, é sujo dar certo), sobre todos que continuam tentando por razão nenhuma, sobre esses que sobrevivem a cada dia ao naufrágio de uma por uma das ilusões.

Sobre as antas poderosas, ávidas de matar o sonho alheio. Não. Derrama sobre elas teu olhar mais impiedoso, Deus, e afia tua espada. Que no zero grau de Libra, a balança pese exata na medida do aço frio da espada da justiça. Mas para nós, que nos esforçamos tanto e sangramos todo dia sem desistir, envia teu Sol mais luminoso, esse Zero Grau de Libra. Sorri, abençoa nossa amorosa miséria atarantada.

Crônica II

DEUS É NAJA
Caio Fernando Abreu

Tenho um amigo , cujo nome, por muitas razões, não posso dizer, conhecido como o mais dark. Dark no visual, dark nas emoções, dark nas palavras: darkésimo. Não nos conhecemos a muito tempo, mas imagino que, quando ainda não havia darks, ele já era dark. Do alto de sua darkice futurista, devia olhar com soberano desprezo para aquela extensa legião de paz e amor, trocando flores, vestida de branco e cheia de esperança.

Pode parecer ilógico, mas o mais dark dos meus amigos é também uma das pessoas mais engraçadas que conheço. Rio sem parar do humor dele- humor dark, claro. Outro dia esperávamos um elevador, exaustos no fim da tarde, quando de repente ele revirou os olhos, encostou a cabeça na parede, suspirou bem fundo e soltou essa: -"Ai, meu Deus, minha única esperança é que uma jamanta passe por cima de mim..." Descemos o elevador rindo feito hienas.

Devíamos ter ido embora, mas foi num daqueles dias gelados, propícios aos conhaques e às abobrinhas. Tomamos um conhaque no bar. E imaginamos uma história assim: você anda só, cheio de tristeza, desamado, duro, sem fé nem futuro. Aí você liga para o Jamanta Express e pede: -"Por favor, preciso de uma jamanta às 30h15, na esquina da rua tal com tal. O cheque estará no bolso esquerdo da calça". Às 20h14, na tal esquina (uma ótima esquina é a Franca com Haddock Lobo, que tem aquela descidona) , você olha para esquina de cima. E lá está- maravilha!- parada uma enorme jamanta reluzente, soltando fogo pelas ventas que nem um dragão de história infantil. O motorista espia pela janela, olha para você e levanta o polegar. Você levanta o polegar: tudo bem. E começa a atravessar a rua. A jamanta arranca a mil, pneus guinchando no asfalto. Pronto: acabou. Um fio de sangue escorrendo pelo queixo, a vítima geme suas últimas palavras: -"Morro feliz. Era tudo que eu queria..."

Dia seguinte, meu amigo dark contou: - "Tive um sonho lindo. Imagina só, uma jamanta toda dourada..." Rimos até ficar com dor na barriga. E eu lembrei dum poema antigo de Drummond. Aquele Consolo na Praia, sabe qual? "Vamos não chores / A infância está perdida/ A mocidade está perdida/ Mas a vida não se perdeu" –ele começa, antes de enumerar as perdas irreparáveis: perdeste o amigo, perdeste o amor, não tens nada além da mágoa e solidão. E quando o desejo da jamanta ameaça invadir o poema – Drummond, o Carlos, pergunta: "Mas, e o humour?" Porque esse talvez seja o único remédio quando ameaça doer demais: invente uma boa abobrinha e ria, feito louco, feito idiota, ria até que o que parece trágico perca o sentido e fique tão ridículo que só sobra mesmo a vontade de dar uma boa gargalhada. Dark, qual o problema?

Deus é naja - descobrimos outro dia.

O mais dark dos meus amigos tem esse poder, esse condão. E isso que ele anda numa fase problemática. Problemas darks, evidentemente. Naja ou não, Deus (ou Diabo?) guarde sua capacidade de rir descontroladamente de tudo. Eu, às vezes, só às vezes, também consigo. Ultimamente, quase não. Porque também me acontece – como pode estar acontecendo a você que quem sabe me lê agora - de achar que tudo isso talvez não tenha a menor graça. Pode ser: Deus é naja, nunca esqueça, baby.

Segure seu humor. Seguro o meu, mesmo dark: vou dormir profundamente e sonhar com uma jamanta. A mil por hora.

Crônica I

TER OU NÃO TER NAMORADO
Artur da Távola

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil.

Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.

Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria.

Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.

Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.

Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.

Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.

Não tem namorado que confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim.

Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.

Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.

"Enlou-cresça."


domingo, 15 de junho de 2008

A dificuldade de manter. A impossibilidade de estar junto. Eu tento esconder tanto tudo de todos que nem me permito me expressar nesta joça aqui, a qual, por sinal, foi feita exatamente pra isso. É a porra do meu conflito entre o público e o meu privado. O que passar ou não? O que falar ou não? Sendo que na verdade eu quero é gritar tudo o que vier na cabeça. Merda de superego que ainda sobrevive. Merda necessária de superego que ainda sobrevive. Por que me recriminas tanto? Por que me culpa tanto? Por que me trata assim, me fazendo sofrer? Coisa difícil é esta de viver. Coisa mais difícil ainda é esta de amar. Amar? E amar é difícil? Se fosse pra ser difícil então não seria amor, correto? Errado. Está tudo errado. O que eu penso é errado. O modo que eu me comporto? Errado. O que eu simbolizei durante 23 anos de minha vida, definitivamente errado. Bah, cansei dessa linguiça aqui. Fui.

domingo, 8 de junho de 2008

Para você




"Sempre vou levar nós comigo. Pra quem sabe um dia, achar a gente denovo e amar tudo denovo, sentir tudo denovo; ser a gente, denovo."

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Repetições

Eu sou único, mesmo sendo igual a você.
Eu sou muito, mesmo me doando tão pouco.
Eu sou complexo, por mais que para ti pareça tão simples.
Eu sou inexplicável, por mais que tu tentes me explicar.
Eu quero o possível, mesmo desejando o impossível.
Eu posso ser aquilo que tu queiras que eu seja.
Eu não sou aquilo que tu queiras que eu seja.
Eu sou aquele que tu achas que eu sou.
Eu não sou aquele que tu achas que eu sou.
Eu sou uma metáfora.
A metáfora do viver.

domingo, 1 de junho de 2008

Muito Boa: Just Jack - Writer's Block



I get this writer's block, it comes as quite a shock,
And now i'm stuck between a hard place and the biggest rock,
In my own head consumed. I sit back in my room,
Its like the tapestries of life get tangled in the loom,
I'm like a butterfly, caught in a hurricane,
My pulse is quickening as my heart plays a new refrain

Im lovin' Mary Jane, flyin' with Lois Lane,
On board a bullet train
Don't know yet if i'm glad i came
Don't know yet if i'm glad i came
Don't know yet if i'm glad i came
Don't know yet if i'm glad i came

Sometimes at night i think too much,
About life and love and music and stuff

I'm livin' in the past,
My clocks an hour fast,
Should really go and make a coffee but i can't be arsed,
I've lost my mobile phone,
You'll have to call my home,
On second thoughts just leave a message when you hear the tone,
My grimy windows show the early morning glow,
Another day, another dollar in my one man show,

Im lovin' Mary Jane, flyin' with Lois Lane,
On board a bullet train
Don't know yet if i'm glad i came
Don't know yet if i'm glad i came
Don't know yet if i'm glad i came
Don't know yet if i'm glad i came

I fell out with Mary Jane, I don't speak to Lois Lane and i missed that bullet train
But now i know i'm glad i-
I fell out with Mary Jane, I don't speak to Lois Lane and i missed that bullet train
But now i know i'm glad i-
I fell out with Mary Jane, I don't speak to Lois Lane and i missed that bullet train
But now i know i'm glad i-
I fell out with Mary Jane, I don't speak to Lois Lane and i missed that bullet train
But now i know i'm glad i came
But now i know i'm glad i came
But now i know i'm glad i came

Just Jack - No Time